segunda-feira, 28 de julho de 2008

Solidão


Optei pela solidão,
não como alguém que faz
uma opção pessoal,
mas como alguém que nasce marcado,
uma marca de gado nas minhas lembranças:
só me lembro de ser só.
Sou um tipo comum,
um tipo qualquer,
com a característica própria
de não saber amar.
Pasmem senhores:
todos na vida amam...
as feias,
as gordas,
descabeladas,
míopes,
medíocres,
fúteis,
todos amam,
todos sabem amar.
Exceto eu.
Fui poupada deste dom.
Sei viver só.
e é só o que resta.
Não que seja de todo mal
ver os dias passando,
um após o outro,
e mais outro,
todos incrivelmente iguais,
todos assustadoramente vazios.
Quando olho para frente
enxergo um imenso Saara,
o nada.
Se olho para trás não há
nem o que eu possa lembrar.
E quando tento olhar para dentro de mim
sinto-me um poço sem fundo,
um vazio imenso,
uma estrada vazia.
Preciso me acostumar
com os prazeres da solidão
se algum dia
descobrir quais são.

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