terça-feira, 29 de julho de 2008


Nossos olhos cairam como lâmpadas
deixando na noite
um cheiro de fósforos queimados.
Era gás que eu via. Gás e luzes, pessoas.
Prostitutas admiravam-se do meu rosto de anjo
Negociando, ali, seus corpos imundos.

As ruas obedeciam aos latidos dos cães
A lua cheia tranformava-os em lobisomens
Somos todos bichos. Bichos, pai.

As ruas guardam-nos dos limites do universo
Eu via pessoas na praça circular
rindo e bebendo algo em garrafas escuras
Sequer posso me embriagar a flor
Sem que ela, deliberadamente, arda e escureça
abrindo os cômodos antes mal iluminados, como bocas.

Eu falo por metáforas e hipérboles
como um poema de sangue e sombra
Minha palavra é uma faca
com que furo meus olhos e mato minha mãe

Eu me masturbo buscando paz
Cansa ser mulher e homem ao mesmo tempo
Minha natureza é fechada e incisiva
Eu desvendo labirintos que invento
Eu abro e fecho portas
Como um vento escuro...

Senhor, ocupa minha mente perdida
com coisas quaisquer
um lenço, uma mulher, um amigo
um trabalho, uma obrigação
ocupa-me com o dinheiro
mas que não girem em torno de mim, terrível atração,
eu, eterno sol da madrugada.

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